NÃO HÁ MOTIVOS PRA VIAJAR

Em 2018 deixei Porto Alegre, minha cidade natal, com um sonho: fazer uma volta ao mundo a pé por aproximadamente dez anos. Desde então já caminhei quase dez mil km por sete países. Eu gostaria de ouvir tantas perguntas interessantes e instigantes sobre essa viagem, mas sabem qual é a pergunta que mais ouço?

Porque eu viajo pelo mundo? Sim, é natural que façam essa pergunta, mas admito que me sinto incomodado com tal questionamento pois parece condicionar minha viagem a um porquê ou a uma causa lógica e racional. Eu não pergunto porque uma mãe ama seu filho, ela simplesmente o ama, não é mesmo? Há coisas que não necessitam de um motivo e talvez viajar seja uma delas. O pequeno príncipe diria que essa é uma típica pergunta de adultos e ficariam muito satisfeitos se minha resposta contivesse números e fórmulas.
Em 2013 quando eu fazia o caminho de Santiago de Compostela essa era uma pergunta recorrente e as pessoas ficavam frustradas ou decepcionadas quando eu dizia que não tinha nenhuma causa em especial. Eu não estava procurando respostas para a vida. Eu não queria superar uma perda ou me curar de um trauma. E agora tampouco. Eu viajo a pé simplesmente porque senti vontade de fazer isso.
Fui chamado de Forrest Gump da América Latina por alguns jornalistas dos países que passei. Eu gosto e me identifico com esse título. No filme, as pessoas esperavam que o personagem, quando perguntado pelo motivo de sua corrida, oferecesse uma resposta filosófica, que servisse de inspiração para outras pessoas. Forrest corre, simplesmente, porque sentiu vontade de correr. Em outras palavras, ele não se pergunta pelo sentido da vida, ele simplesmente a vive. Da mesma forma, as pessoas esperam que essa caminhada tenha um motivo que se encaixe nos parâmetros que, socialmente e culturalmente, aceitamos como válidos para se construir uma vida. Eu caminho pelo simples fato de que tive oportunidades que me permitiram ver que é possível viajar caminhando.

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